Inserção cultura afro nos currículos



A INSERÇÃO DA CULTURA AFRO-BRASILIRA NOS CURRÍCULOS ESCOLARES



Delydia Cristina Cosme e Silva

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Resumo



Este trabalho apresenta um panorama da inclusão da história e cultura afro-brasileira nos currículos

escolares. Embasados na Lei nº 10.639, é garantido o ensino nas escolas particulares e públicas,

ensino fundamental e médio, deve-se incluir as temáticas da cultura afro-brasileira nos currículos

nacionais de educação.



PALAVRAS-CHAVES:

Inclusão; Cultura; Conhecimento.



INTRODUÇÃO



Este artigo investiga sobre os traços da disseminação da cultura afro-brasileira nas escolas

da rede pública ou privada. A minha própria bagagem de vida me impulsiona a discutir acerca desta

questão, pois desde o início de minha trajetória escolar me impulsiona a discutir acerca desta

questão.

Tomar consciência de que o Brasil é um país multirracial e pluriétnico e reconhecer e aceitar

que, nesta diversidade, negros e indígenas têm papéis da maior relevância para a sociedade

identifiquem as influências, as contribuições, a participação e a importância da história e da cultura

dos negros no seu jeito de ser, viver, de se relacionarem com as outras pessoas.



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Graduada em Normal Superior pela Fundação Educacional São José; pós-graduada em Ensino Religioso da

FIJ e complementando graduação em Pedagogia no Instituto Superior de Educação da Fundação Educacional

São José.



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A Lei nº 10.639, sancionada em janeiro de 2003, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva,

gera resultados: milhares de jovens negros e brancos estão aprendendo sobre a cultura e a história

afro-brasileira e a conviver e respeitar as diferenças.

A lei é um avanço significativo por duas questões: ela permite que um assunto de tamanha

relevância seja tratado da forma que merece. É o reconhecimento do estado brasileiro da

necessidade de implementar políticas afirmativas para promover a igualdade racial. A lei não é boa

só para o negro, ela é uma ferramenta para promoção da diversidade como um valor nacional.

Num país plural como o nosso isso só nós obriga a não permitir que a educação seja dada

somente pela matriz européia. Essa lei está pelo menos cem anos atrasada.



1. A INSERÇÃO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NOS CURRÍCULOS

ESCOLARES



Até o final da década 70, os estudos sobre a situação dos negros no Brasil, ficavam

concentrados basicamente em três áreas: medicina, psicologia e antropologia que tinha como foco

principal o folclore e as religiões afro-brasileiras. Porém, no início dos anos 80, surge na

universidade uma nova vertente teórica, elaborada quase que exclusivamente por pesquisadores

militantes do Movimento Social Negro, que estrategicamente vem forjando espaços políticos para a

inserção de suas propostas nas diferentes campos de conhecimento.

A lei 10.639/03 foi criada para que as escolas públicas e particulares do Ensino Fundamental

e Médio insiram a História e Cultura Afro-Brasileira no currículo escolar, alterando as Leis de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Em seu parágrafo primeiro a nova Lei estabelece que o conteúdo programático a ser

desenvolvido pela escola deverá conter o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos

negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando

a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.

Salvador foi a primeira capital do Brasil a ter oficialmente o ensino da cultura negra, ainda

ostenta uma realidade onde falta respeito e valorização à etnia que corresponde à maioria de sua



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população pobre. Os temas ligados à cultura africana ainda não são tratados adequadamente em sala

de aula e há muito o que fazer.

A aprovação da Lei Federal 10639/03 modificou a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) ao

instituir a obrigatoriedade dos sistemas de ensinos municipal, estadual e federal que precisam

incluir aulas sobre questões étnico-culturais em seus currículos. Antes da aprovação da lei, alguns

municípios, como Salvador (1989), Belo Horizonte (1990), Porto Alegre (1991), Diadema e Belém

(1994), São Paulo e Distrito Federal (1996), Criciúma (1997), Teresina (1998), Campo Grande

(1999) e Campinas (2000), já haviam incluído em seu currículo o estudo das relações étnicoculturais

ou raciais. No entanto, a promulgação da lei, embora represente um avanço no sentido da

promoção da igualdade racial, infelizmente, não garante sua realização.

Trabalhar as questões étnico-raciais e culturais com crianças pequenas pode trazer resultados

positivos, uma vez em que passam a considerar as diferenças (não apenas as ligadas ao tom da pele)

como algo presente e que não deve levar à exclusão.

Conceitos como raça, racismo e preconceito tornam-se mais importantes quando refletimos

a respeito de qual o impacto da discriminação sobre população negra e não negra e sobre o papel

que a escola tem desempenhado para discutir situações de racismo e de discriminação envolvendo a

população pobre e negra desse país. A questão é, também, social.

O currículo escolar deve levar em conta a identidade dos negros, respeitar seu modo de ser e

de pensar o mundo, considerar a imensa influência que a cultura africana sempre exerceu sobre o

modo de ser do brasileiro.

Professores e alunos passam a construir, a partir dos estudos sobre a África e o Brasil, e a

constituição de seus povos e sua cultura, um novo currículo, vivo, embasado numa nova concepção

de educação, pautada no respeito e promoção da igualdade étnica, cultural e racial.

Adultos, jovens e crianças negras na condição de oprimidos, sofrem de uma dualidade que

se instala na interioridade do seu ser. Querem ser, mas temem ser, tais pessoas introjetaram a

sombra do opressor e seguem suas pautas. “Sua luta se trava entre serem eles mesmos ou serem

duplos” Entretanto, há-de-se considerar o grande número de negros que escapam a tais

condicionamentos e que fazem oposição sistemática à ideologia do embranquecimento, buscando

identificar-se com suas raízes culturais.



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Paulo Freire (1987) argumenta que:



“a vocação natural de todo ser humano é ser mais e não ser menos. O sentimento de ser

menos ocorre e, às vezes, se cristaliza, quando o oprimido se encontra em permanente

situação-limite, na qual o dominador aparece (sempre) como o vencedor que detém todo

poder sobre a produção econômica e cultural”.



A ausência de uma educação para a diversidade étnica-racial no espaço escolar é um

problema que vem se perpetuando ao longo da História através das diversas práticas sociais e,

principalmente, no âmbito educacional. No almanaque pedagógico afro-brasileiro (2007), diz-se

assim:



“... quando a criança negra chega á escola, ela traz consigo uma série de indagações em

relação ao seu pertencimento racial, à qual a escola irá responder de forma favorável ou

não, através de suas práticas pedagógicas, atitudes, posicionamento e até mesmo de seus

silêncios”.



O professor nem sempre se posiciona de uma forma positiva diante da diversidade racial

existente no ambiente escolar. Vários pesquisadores como Gomes (1995), Paraíso (1999),

Gonçalves (1985), entre outros, revelam através de suas pesquisas que a questão racial constitui-se

em um campo de silêncio no currículo em ação dos cursos de formação de professores. O negro,

muitas das vezes, só e lembrado no dia 13 me maio, em que apenas se revive a memória da princesa

Isabel, como aquela que deu a liberdade aos negros. Não se fala em luta, em resistência ou em

conquista dos povos negros. O que predomina é a visão do escravo à espera de que algo de bom lhe

aconteça: a libertação.

Segundo Gomes (2004), a formação do professor para a diversidade étnico-racial deve ser

um processo de desestruturação dos mitos radicais. Essa formação precisa de uma maneira radical

nos valores e representações que o próprio sujeito tem a respeito do negro. Os valores estão

imbuídos nas práticas que precisam ser revistas para que se possam construir novos fazeres dentro

da escola, fazeres que alcancem uma dimensão mais democrática no que se refere às diferenças

raciais.

Atualmente é muito comum ser visto em Bibliotecas Escolares a literatura afro-brasileira,

ganhando um espaço de visibilidade social. Este tipo de literatura surge em função das populações



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afro-descendentes presentes na escola, que, ao longo dos anos, não foi tratada como uma população

que detém uma cultura e uma história dignas de valorização e respeito.

As práticas pedagógicas que levam a serio o conteúdo dessa lei têm um compromisso ético

com o fortalecimento e a construção de identidades. Implicam a construção do olhar de um grupo

étnico-racial ou de sujeitos que pertencem a um mesmo grupo étnico-racial, sobre si mesmos, a

partir da relação com o outro (GOMES, 2005).

Uma alternativa que tem sido empregada nas Instituições Escolares são a leitura e a contação

de histórias para as crianças que contribuem para a construção de uma auto-estima elevada, para

uma auto-conceituação afirmativa de meninos e meninas negras, para a elaboração de identidade

livres de estigmatizações e estereótipos manipulados ideologicamente como negação de certo

grupo.

Promover a implementação da Lei 10.639/03 depende de condições físicas, materiais,

intelectuais e afetivas favoráveis para o ensino/ aprendizagem. Segundo o Parecer CNE/ CP 003/

2004: “todos os alunos negros e não negros precisam sentir-se valorizados e apoiados no ambiente

escolar, bem como na sociedade.”

O professor deve buscar materiais didáticos para a sala de aula que contemplem os

segmentos étnico-raciais e sócio-culturais representados pelos alunos, trabalhando a diversidade, a

educação para as relações raciais, o fortalecimento e construção de novas identidades baseadas no

reconhecimento da existência do outro. O uso da literatura é um caminho para a elaboração de

novas práticas escolares e uma forma lúdica de ensinar valores e novas culturas.

Combater os preceitos e os estereótipos pejorativos do negro é função de uma educação que

se pretende democrática. Para Gomes (2004), a escola como espaço de sociabilidade constitui-se em

um local privilegiado para a superação dos conflitos e preconceitos raciais. Sendo assim, o trabalho

com a literatura infantil afro-brasileira pode ser um elemento potencializador das discussões e

superações dos mitos raciais no âmbito escolar.

Para tanto, deve constituir-se em ambiente educativo, acessível a toda a comunidade escolar,

em que se respeita o outro, em que se dá visibilidade a todos, combatem-se as discriminações,

busca-se eliminar os preconceitos e são desfeitos os estereótipos, em que se estimula a auto-imagem



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e a auto-estima positivas, em que se promove a igualdade étnico-racial pela desconstrução das

diferentes formas de exclusão.



CONCLUSÃO



Embasada no artigo 210 da Constituição Federal de 1988, onde: “Serão fixados conteúdos

mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos

valores culturais e artísticos, nacionais e regionais”. De acordo com este artigo da Constituição

Federal, há um entroncamento com a Lei 10.639/03 no quesito de incentivo a conhecer as culturas

que compõem esta pluralidade de formação dos brasileiros, onde não podemos dizer que somos de

origem ora européia, ora áfrica, ora asiática, mas sim, uma miscigenação de raças, culturas e

saberes. Nesta pluralidade não há espaço para preconceito racial, cultural e qualquer outro tipo de

pré-rotulação quanto ao próximo. Por mais bonito que seja este discurso, não é a realidade que

vivenciamos em nossa sociedade.

Através desta Lei 10.639/03 a qual fez com que os currículos escolares tenham sido

ampliados para oportunizar o conhecimento da cultura afro-brasileira, pois afinal é parte de nossa

história. Já que todos nós temos parte deste sangue correndo em nossas veias. A introdução de fatos

que mantêm em destaque a cultura afro-brasileira devem ser colocadas nas aulas de História para

que os alunos possam compreender melhor sua própria história e entender que o excesso de

melanina que compreende a tonalidade da pele vai muito além dos traços que nos compõem. E

deste modo, exterminar os preconceitos formulados por alguns de nós.

Transpor continentes, conhecer histórias e tecnologias de outros povos é a proposta desta

Lei nº 10.639/03 que inclui o ensino de história e cultura africanas e afro-brasileiras nas escolas, na

tentativa de corrigir o pouco caso com a cultura africana que se reflete na sala de aula

contemporaneamente. A África, o segundo maior continente do planeta aparece em livros didáticos

somente quando o tema é escravidão, deixando carente a noção de diversidade de nosso povo e

minimizando a importância dos afro-descendentes.

Trazer para a contemporaneidade os problemas remotos de domínio dos europeus sobre os

africanos é uma questão muito contemporânea nas salas de aulas, lembramos muito bem quando



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relatamos a história do Brasil ao relatar sobre o tráfico negreiro, ao relatar a Lei Áurea, enfim,

histórias tristes onde o negro está sempre subestimado em comparação ao branco. Assim,

analisando a África como um continente e não como um país, daria uma excelente aula de

Geografia, trazendo temas ilustrativos, introduzindo uma bela aula nas salas de informática da

escola, enfim, uma simples temática proporciona uma aula expositiva de qualidade que gera muito

conhecimento aos nossos alunos. Desta forma, podemos trabalhar em torno desta temática – África

em todos os conteúdos, tais como: atualidade (problemas existentes em todo o mundo – fome e

aids), história (A África existia antes dos europeus), ciências naturais (cada um de nós temos

genomas africanos – berço da humanidade), matemática (cultura egípcia através de simetria,

geometria e cálculos), Língua estrangeira (reggae), Língua portuguesa (palavras, lendas e heróis

característicos da cultura africana), artes (Dança, música e desenhos), educação física (jogos

regionais africanos). Promover a integração através de disciplinas o qual chamamos de projetos

interdisciplinar é uma solução muito integradora apara que toda a escola fale a mesma linguagem e

assim, consigam corromper dentro de uma comunidade escolar o preconceito inter-racial que não é

cabível em pleno século XXI, com a Era da modernidade em tantas esferas não é possível que

existam este conceito pré-formado entre os cidadãos do Brasil.



BIBLIOGRAFIA



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In: África de todos nós. Ano XX. Nº 187. Novembro/ 2005.



REVISTA NOVA ESCOLA.

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Fonte:
http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=3700925458805425045#editor/target=page;pageID=3570291065988816458



Texto 2

Reflexão sobre o ensino da cultura afro-brasileira nas escolas.

Este texto monográfico tem como objetivo fazer uma reflexão quanto a questões pertinentes referentes ao ensino da cultura afro-brasileira nas escolas. Visto que no Brasil, as questões raciais estão veladas por discurso de não racismo, é muito importante que a instituição escolar e principalmente os docentes estejam cientes de seu papel quanto a tal responsabilidade no ensino. Pretende-se com esse trabalho refletir sobre a educação dada ao afro-descendente, construindo uma linha do tempo desde a escravidão até a atualidade de forma resumida. Destacando no percurso os conhecimentos acumulados pelos africanos na diáspora, e sua relevância quanto aos estigmas que foram sendo construídos ao longo dos séculos sobre o negro brasileiro, e como sua não inclusão foi garantida pelo racismo ao logo do tempo. Também faz uma trajetória do que foi a exclusão do negro do sistema formal de ensino brasileiro e como esses elementos interferem negativamente na atualidade. Depois, trata-se da questão do preconceito no ambiente escolar e como tal assunto ainda é desconfortável ou meramente ignorado por muitos educadores. Fazendo referência constante à importância da cultura afro-brasileira na sociedade brasileira, concernente ao trato com os discentes de origem afro-descendente a importância de escola não rechaçar tais questões ignorando-as, mas trazê-las para serem discutidas com o objetivo de minimizar o preconceito construído socialmente em cada individuo. Claro que ao tratar da questão escolar, se faz referência direta ao papel assumido pela Lei Federal nº.10639/2003 de 09 de Janeiro de 2003, sobre a inclusão obrigatória nos currículos da Educação Básica à Superior do Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana com o intento de valorizar a matriz racial africana no Brasil. São tecidos alguns comentários acerca da lei e do seu impacto nos sistemas de ensino brasileiro, principalmente quanto ao papel legado ao professor, o qual se encontra despreparado para assumir tal encargo por conta do desconhecimento do tema e dos seus próprios preconceitos quanto a tal cultura. Isso abre espaço para se dialogar sobre a importância concedida ao currículo e as abordagens pedagógicas que norteiam as práticas dos docentes e como estas podem interferir no ensino da cultura afro-brasileira. Finalizando a dissertação com uma reflexão quanto ao papel do docente no ensino da cultura afro-brasileira na promoção de uma consciência critica que ensine nossos discentes afro-brasileiros a construírem uma auto-estima que os habilitem a lutar contra o preconceito ainda presente em nossa sociedade bem como na busca pelos seus diretos concedidos pela Constituição Federal brasileira.
PALAVRAS-CHAVE: cultura afro-brasileira, afro-descendente, preconceito, racismo, formação docente


Fonte:http://www.webartigos.com/artigos/o-papel-do-docente-no-ensino-da-cultura-afro-brasileira/87967/

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